No ano do seu quadragésimo aniversário, o Teatro da Rainha dará início no próximo Dia Mundial do Teatro, 27 de Março, ao ciclo Pimentíada, que se estenderá até 5 de Abril com uma celebração explosiva que pretende ser uma pedrada no charco do comemorativismo rotineiro. Centrado na obra de Alberto Pimenta, nosso grande clássico-contemporâneo e performer vivo, o ciclo Pimentíada constará dos regressos de O discurso sobre o filho-da-puta, com elenco renovado composto por Inês Barros, Fábio Costa, Nuno Machado e Marta Taveira, e de Reality Show, um longo work in progress que terá como performers Fábio Costa, Fernando Mora Ramos, José Carlos Faria, Nuno Machado e Tiago Moreira. Ambas as criações têm a assinatura do encenador Fernando Mora Ramos, Director Artístico do Teatro da Rainha desde a sua fundação em 1985.
Teremos ainda uma criação sonora e cénica do compositor Carlos Alberto Augusto, a partir do livro Marthiya de Abdel Hamid, a exibição de O Homem-Pykante — Diálogos kom Pimenta, filme-performance de Edgar Pêra, um colóquio com a participação Fernando Mora Ramos, Joëlle Ghazarian, Júlio Henriques, Lúcia Evangelista, Maria Irene Ramalho e Manuel Portela, intervenientes com trabalho reflexivo e criativo em torno da obra de Alberto Pimenta, e uma aula aberta, por Henrique Manuel Bento Fialho, em torno do livro-poema Indulgência Plenária, poema-livro, em cinco partes, sobre o brutal assassinato da transexual brasileira Gisberta Salce Júnior por um grupo de 14 adolescentes abrigados numa instituição católica.
Pimentíada é, como o nome indica, uma referência indirecta a Olimpíada que, no caso, teria a ver com Olímpia. Portanto, o nome transporta o conjunto de factos a trazer à tona, como quem diz, à cena. Ser uma glosa de uma celebração grega, do tipo agonístico, não será um acaso. Os gregos, nomeadamente Homero, são matéria e material constantes da escrita de Alberto Pimenta, crítico impiedoso da complacência e atavismo portugueses, da corrupção “endémica”, deste conviver com a inoperância e com o fora de prazo contente de tudo, com a podridão institucional — o seu diagnóstico é verdadeiro e assertivo, humoradamente ácido e crítico — e, por isso mesmo, um escritor posto à margem, que os prémios do costume não celebram.